Bicampeã olímpica e considerada a melhor jogadora do mundo pela Federação Internacional de Vôlei (FIVB) em 2008, a ponteira Paula Renata Marques Pequeno, de 32 anos, concedeu entrevista exclusiva à Gazeta Esportiva e, sem ‘’bloqueios’’, não escondeu sua insatisfação na maneira como se despediu da Seleção Brasileira, em 2012, comandada pelo técnico José Roberto Guimarães.
Atualmente morando em sua cidade natal e jogando pelo Brasília Vôlei desde 2013, a atleta comentou sobre o atual momento da carreira e as chances de sua equipe na principal competição nacional, a Superliga. Com a forma física 100%, a jogadora sequer pensa em aposentadoria e revela que ainda tem ‘’muita lenha para queimar’’.
Dentre os 33 títulos conquistados como profissional, os mais impactantes são os das Olimpíadas de Pequim 2008, quando foi eleita a MVP (jogadora mais valiosa) do torneio, e dos Jogos de Londres 2012, onde perdeu lugar no time titular para Fernanda Garay, condição que fez Paula reclamar de Zé Roberto e descartar um retorno à Seleção. No currículo da atleta ainda constam dois Grand Prix, um Pan-Americano (Guadalajara 2011) e um vice-campeonato do Mundial de seleções (2006).
Influenciada a se relacionar com o voleibol por sua mãe e pelo irmão, Gercione e Cláudio, que também foram jogadores, a candanga deixou a capital federal com 15 anos para ir a São Paulo, onde mais tarde se destacaria no então Finasa/Osasco, sendo octacampeã do Paulista e tri da Superliga. No exterior, Paula vestiu a camisa do Zarechie Odintsovo, da Rússia, onde foi campeã nacional em 2010.
Assunto mais comentado e polêmico a cerca do vôlei nas últimas semanas, o caso das irregularidades em contratos da Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) é motivo de preocupação para Paula, que espera medidas que ‘’limpem’’ o nome da modalidade.
Gazeta Esportiva: Após os Jogos de Londres 2012, quando o técnico José Roberto Guimarães te colocou no banco de reservas a partir da quarta partida, você disse que dificilmente participaria do ciclo olímpico para o Rio 2016. Você se sentiu mal aproveitada em Londres? Ainda pensa em Seleção Brasileira?
Paula Pequeno: Não, não (sobre Seleção). Eu me senti mal aproveitada porque eu estava prontíssima, muito em forma, preparada e pronta para ajudar mais o time. Então, eu acho que tive poucas oportunidades. Só que assim, de uma maneira ou de outra, isso já estava nos meus planos, aquela seria minha última Olimpíada mesmo (Paula tinha 30 anos em 2012), porque não é só a Olimpíada, é um ciclo. E eu resolvi dar prioridade para o meu descanso, preservar meu corpo, minha mente para fazer bons campeonatos nos clubes.
Gazeta Esportiva: Você tem 32 anos e está no Brasília Vôlei (DF) desde 2013, ano em que a equipe foi criada. A Paula Pequeno pensa em ficar por aí mesmo ou iria tratar com carinho alguma proposta de São Paulo, Rio de Janeiro, ou até mesmo do exterior?
Paula Pequeno: Não, eu tenho um carinho especial por esse projeto (do Brasília), eu estou na minha cidade, que eu gosto muito, mas como todo profissional eu trataria com muito carinho todas as outras propostas, sem dúvida.
Gazeta Esportiva: O Brasília é o atual sexto colocado da Superliga – estaria classificado para as quartas de finais. Até onde pode chegar esse time? Dá para bater de frente com o Molico/Nestlé (Osasco), Sesi-SP e Rexona-Ades?
Paula Pequeno: Isso a gente vai construir durante o campeonato. Não tem como dar uma previsão de até onde a gente vai chegar. A gente sabe aonde queremos chegar e o que importa é que a gente mantenha os pés no chão, sabendo que temos plenas condições. Só depende da gente. Então, é trabalhar duro mesmo e foco no objetivo o tempo inteiro, que é chegar bem além do que a gente imagina.
Gazeta Esportiva: Como você vê o atual momento do vôlei brasileiro, principalmente após as denúncias à CBV? Você acha que esse escândalo pode prejudicar a estrutura do voleibol nacional e da Superliga?
Paula Pequeno: Olha, eu não sei quais serão as consequências, até porque a gente não sabe ainda se eles vão ter condições de resolver tudo isso, se vão limpar o nome do voleibol, mas espero que sim. Espero que tudo seja resolvido e não repercuta mais ainda. Que não tenha consequências piores para o voleibol.
Gazeta Esportiva: Pensando nos Jogos de 2016, qual será ou quais serão as principais seleções adversárias das brasileiras?
Paula Pequeno: Eu acredito que China, Itália, Estados Unidos, não sabemos ainda os outros classificados, mas são times que podem dar muito trabalho. Tem também o Japão. Olha, Olimpíada vou te falar, é muito difícil. Só tem máquina. Só tem timaço, então não dá nem para se esconder do adversário, é todo mundo muito difícil. Eu desejo boa sorte para elas (as brasileiras).
Gazeta Esportiva: Você pensa em continuar trabalhando no vôlei profissional após encerrar a carreira, seja como treinadora ou dirigente?
Paula Pequeno: Ainda não pensei sobre isso, mas eu já tenho umas escolas de vôlei, estou com oito aqui em Brasília, que era um projeto que eu já tinha uma vontade há muito tempo. Pretendo montar ainda mais escolas, abrir oportunidades mesmo para revelar novos atletas. Agora, trabalhar mesmo como dirigente e como técnica, nunca pensei nisso não. Na verdade, eu agradeço a saúde que Deus me dá e acho que tenho muita coisa para ganhar ainda e muito para jogar. Tenho muita lenha para queimar.
Por: Gazeta Esportiva
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